Língua Portuguesa - Não a Transforme em um pesadelo

Por Luiz Gonzaga Pereira de Souza

Como professor de Língua Portuguesa, ou mesmo na qualidade de cidadão comum, já recebi de várias pessoas, alunos ou não, reclamação de que o Português é muito difícil, dizendo serem complexas as terminologias adotadas pela Gramática, além da dificuldade de escrever e falar bem.

Sempre que tenho oportunidade, gosto de conversar com as pessoas a esse respeito, e é por isso que estou aproveitando este espaço para escrever um pouco sobre o assunto.

Felizmente, hoje, a maioria dos professores de Gramática está dando mais ênfase, em suas aulas, à semântica, fazendo com que os estudiosos da língua encontrem solução para muitas de suas dúvidas.

Antigamente, dava-se muita importância à terminologia sintática e lexical da língua, obrigando as pessoas a guardarem nomes como: verbos defectivos, verbos abundantes, conjunção subordinada adverbial condicional, ou comparativa, ou final, figuras de estilo como metáfora, metonímia, sinédoque, catacrese, etc. Daí a ira do aluno em achar que teria que decorar esses nomes e muitos outros mais.

Atualmente, as questões em provas escolares ou concursos são formuladas de uma forma diferente, facilitando, em muito, encontrar as respostas certas. Por exemplo: Se eu tivesse dinheiro compraria um carro mais confortável. Muito bem! O que é importante saber a respeito do que está em negrito? 1. Como se classifica a oração destacada? 2. Qual o significado transmitido pela oração destacada, ou qual o valor semântico transmitido pela oração destacada? Para alguns academicistas é fácil responder que ela é classificada como oração subordinada adverbial condicional. Para as pessoas que não têm conhecimento dos nomes ou das terminologias gramaticais a resposta é muito fácil, ou seja, a oração sublinhada traz a ideia de condição. Então, o importante é compreender o significado, levando, tranquilamente, o interessado à resposta.

Ora, o SE, que aparece na oração acima, é uma conjunção subordinativa condicional. Mas o SE pode ter outras classificações, dependendo do contexto no qual ele aparece. Para responder à pergunta 2, não é preciso conhecer a gramática, e a resposta é fácil de ser percebida, bastando tão somente ler o pequeno período e perceber a ideia de condição nela contida, ou seja, buscar o significado transmitido, o seu valor semântico. Até mesmo aquele que desconhece a gramática chega à resposta sem maiores dificuldades. São muitos os candidatos que são aprovados em concursos públicos sem conhecer bem a gramática, interpretando a questão e prestando muita atenção ao significado das palavras. Outros, que ficam presos ao academicismo, conhecem muito bem a gramática e não são aprovados. Não estou querendo desestimular ninguém a estudar gramática, mas alertar para a importância da semântica no estudo do Português.

Afinal de contas, por que é tão importante despertar as pessoas para o estudo da semântica? A resposta é simples. Ela faz com que o estudante não fique preso eternamente a nomes ou terminologias. Basta prestar atenção ao significado ou na ideia transmitida através do texto, para que, automaticamente, se descubra a resposta da questão apresentada. Os gramáticos não inventaram nomes quaisquer para a classificação de termos da oração ou identificação da classe gramatical das palavras. Eles foram pelo significado transmitido. Você já pensou se, para se identificar um substantivo na oração, tivéssemos que nos lembrar sempre da definição “substantivos são palavras que dão nomes aos seres.”?

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Aproveitando a oportunidade, vamos trabalhar, para elucidar melhor a situação aqui apresentada, atendo-nos a uma situação ligada ao estudo dos verbos defectivos e abundantes. O que é verbo defectivo? O que é verbo abundante? Normalmente essas perguntas não são apresentadas em concursos. Mas o que acontece? O aluno logo vai dizendo: “Nossa, professor, que nomes esquisitos!" E o professor logo responde: não há nada de esquisito. O que significa a palavra defectivo? Resposta: defeituoso. Logo verbo defectivo é um verbo defeituoso, aquele que falta algum pedaço. Como? Vejamos o verbo abolir, no presente do indicativo, só é conjugado assim: tu aboles, ele abole, nós abolimos, vós abolis, eles abolem. E a primeira pessoa do singular? Não há. Como fazer se eu precisar usá-la? Basta substituí-la por outra de igual sentido, um sinônimo. Vejamos este exemplo não permitido: Eu, por minha conta, abolo o acento desta palavra. Frase substitutiva com o mesmo significado: Eu, por minha conta, retiro o acento desta palavra.

E com relação aos verbos abundantes? O que significa abundante? Resposta: que existe ou há em abundância, farto. Na gramática os verbos abundantes apresentam mais de uma forma para o mesmo tempo, modo ou pessoa, e particípio.
Lembre-se de que existe norma específica para usar corretamente uma das formas do particípio passado.

Exemplos de alguns verbos abundantes:

  • Morrer – particípio passado -> morrido, morto
  • Aceitar – particípio passado -> aceitado, aceito
  • Construir – 2ª pessoa do presente do indicativo -> construis, constróis
  • Haver − 1ª pessoa do plural do presente do indicativo -> havemos ou hemos

Para outros esclarecimentos sobre o assunto, basta consultar uma boa gramática da Língua Portuguesa.

Agora, para finalizar, ciente de que muita gente tem dúvida sobre o assunto, relembremos:

  • O verbo ADERIR, irregular (não mantém a mesma raiz ou o mesmo radical em todas as pessoas e tempos), não defectivo, apresenta alternância vocálica gráfica: o e do radical muda para i na primeira pessoa do singular do presente do indicativo e nas formas daí derivadas. Vejamos:
  • Presente do indicativo -> Adiro, aderes, adere, aderimos, aderis, aderem
  • Presente do subjuntivo -> Adira, adiras, adira, adiramos, adirais, adiram
  • Imperativo afirmativo -> Adere (tu), adira (você), adiramos (nós), aderi (vós), adiram (vocês)
  • Imperativo negativo -> Não adiras, não adira, não adiramos, não adirais, não adiram.

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