Pronomes pessoais oblíquos

Por Guilherme Viana

Os pronomes pessoais oblíquos são aqueles que se referem às pessoas do discurso quando exercem função de complemento da oração, assumindo comumente função de:

→ objeto direto,

→ objeto indireto.

Portanto, pronomes pessoais oblíquos não exercem função de sujeito, fator que os diferencia dos pronomes pessoais do caso reto.

Leia também: Pronomes relativos – classe de pronomes essencial para construir-se a coesão textual

Quais são os pronomes oblíquos?

Veja, na tabela, os pronomes oblíquos de acordo com a pessoa do discurso.

 

Pronomes pessoais oblíquos

átono s (sem preposição)

tônicos (com preposição)

singular

me

mim, comigo

te

ti, contigo

lhe, o, a, se

ele, ela, si, consigo

plural

nos

nós, conosco

vos

vós, convosco

lhes, os, as, se

eles, elas, si, consigo

Uso dos pronomes pessoais oblíquos

Para entender o uso desses pronomes, vejamos um exemplo:

Nós entregamos todas as cartas.

sujeito + verbo + complemento

Nesse exemplo, “nós” é um pronome que se refere à 1ª pessoa do plural (pronome pessoal) e que exerce função de sujeito. Assim, é um pronome pessoal do caso reto.

Veja o que acontece quando mudamos as posições:

Todas as cartas foram entregues por nós.

sujeito + verbo + complemento

Dessa vez, o sujeito da oração é “todas as cartas”. O pronome “nós” exerce função de complemento e, por isso, passa a ser um pronome pessoal oblíquo.

Como complemento, esses pronomes podem ser acompanhados de preposição (sendo chamados de pronomes oblíquos tônicos) ou não (sendo chamados de pronomes oblíquos átonos). Vamos entender melhor essa diferença.

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Pronomes oblíquos tônicos

Pronomes oblíquos tônicos precisam estar acompanhados de preposição para que consigam ser encaixados na oração.

Você nunca acredita em mim.

Hoje, eles falaram de nós.

Nos exemplos, o sujeito da oração está sublinhado, enquanto os pronomes pessoais em vermelho exercem função de complemento dos verbos.

Veja outro exemplo:

Sem elas, nós não conseguiríamos.

Observe que, independentemente da posição que se ocupam na oração, temos as funções bem delimitadas: o sujeito “nós” do verbo “conseguir” conta com o complemento “sem elas”.

A preposição “com” apresenta uma diferença: ela consegue juntar-se ao pronome, formando uma única palavra. Assim, podemos ter:

Você iria ao cinema comigo?

Ele quer ir ao cinema conosco?

No caso da 3ª pessoa, é possível utilizar duas formas:

Eu não percebi nada de errado consigo.

Eu não percebi nada de errado com ele.

Veja também: Regência verbal e regência nominal: diferenças e regras

Pronomes oblíquos átonos

Pronomes oblíquos átonos não vêm acompanhados de preposição. Veja:

Eu te disse isso ontem.

No enunciado, o pronome “eu” exerce função de sujeito da oração, enquanto o pronome “te” é complemento do verbo “dizer” (dizer a alguém). Como não é necessária nenhuma preposição acompanhando o pronome “te”, trata-se de um pronome oblíquo átono.

Os pronomes oblíquos átonos da 3ª pessoa apresentam duas formas diferentes, dependendo do tipo de objeto que eles substituem. Caso substitua um objeto indireto (ou seja, aquele que tem preposição), utiliza-se o pronome “lhe” ou “lhes”, dependendo do número da pessoa. Veja:

A criança deu o brinquedo a ele.

A criança deu-lhe o brinquedo.

Caso substitua um objeto direto (ou seja, aquele que não tem preposição), pode-se utilizar o pronome “o”, “a”, “os” ou “as” dependendo do gênero e do número da pessoa.

A criança deu o brinquedo a ele.

A criança deu-o a ele.

Colocação pronominal

Os pronomes oblíquos átonos podem aparecer antes, depois ou até no meio do verbo para o qual eles servem de complemento.

Próclise: aparecem antes do verbo quando alguma palavra atrai os pronomes oblíquos para perto delas, como outros pronomes, preposições ou palavras com sentido negativo. No exemplo anterior, o pronome do caso reto “eu” atraiu o pronome do caso oblíquo “te”. O mesmo acontece nas orações:

  • Eu te amo.

  • Todos me ouvem.

  • Nada nos deterá.

Ênclise: aparecem depois do verbo quando a oração é iniciada por ele, ou quando se trata de um verbo no gerúndio ou no imperativo afirmativo, como nas orações:

  • Deu-lhes muitos presentes.

  • Erra todas as falas, mesmo decorando-as sempre.

  • Faça uma ótima faxina em casa, mas faça-a bem.

Observação: É necessário atentar-se para o fato de que, na ênclise, os pronomes “o”, “a”, “os” e “as” têm suas formas afetadas pelo final do verbo:

Caso o verbo termine em vogal, o pronome mantém sua forma:

Sabia-o bem.

Caso o verbo termine em -m, -ão, -õe ou com outro som anasalado, o pronome passa a ser “no”, “na”, “nos” ou “nas”:

Sabiam-no bem.

Caso o verbo termine em -r, -s ou -z, essas consoantes são suprimidas e o pronome assume a forma “lo”, “la”, “los” ou “las”:

Deve comprá-lo amanhã.

Mesóclise: aparecem no meio do verbo quando o verbo está no futuro (do presente ou do pretérito), quando não há motivos para usar-se a próclise ou a ênclise. Isso ocorre, por exemplo, na oração:

Esperá-lo-ei amanhã.

Os pronomes pessoais oblíquos exercem função de complementos verbais.
Os pronomes pessoais oblíquos exercem função de complementos verbais.

Exercícios resolvidos

Questão 1 - (FCC)

A fronteira da biodiversidade é azul. Atrás das ondas, mais do que em qualquer outro lugar do planeta, está o maior número de seres vivos a descobrir. Os mares parecem guardar as respostas sobre a origem da vida e uma potencial revolução para o desenvolvimento de medicamentos, cosméticos e materiais para comunicações. Sabemos mais sobre a superfície da Lua e de Marte do que do fundo do mar. Os oceanos são hoje o grande desafio para a conservação e o conhecimento da biodiversidade, e os especialistas sabem que ela é muitas vezes maior do que hoje conhecemos. Das planícies abissais — o verdadeiro fundo do mar, que ocupa a maior parte da superfície da Terra — vimos menos de 1%. Hoje sabemos que essa planície, antes considerada estéril, está cheia de vida. Nos últimos anos, não só se fizeram novos registros, como também se descobriram novas espécies de peixes e invertebrados marinhos — como estrelas-do-mar, corais, lulas e crustáceos. Em relação à pesca, porém, há más notícias. Pesquisadores alertam que diversidade não é sinônimo de abundância. Há muitas espécies, mas as populações, em geral, não são grandes.

A mais ambiciosa empreitada para conhecer a biodiversidade dos oceanos é o Censo da Vida Marinha, que reúne 1.700 cientistas de 75 países e deverá estar pronto em 2010. Sua meta é inventariar toda a vida do mar, inclusive os micro-organismos, grupo que representa a maior biomassa da Terra. Uma pequena arraia escura, em forma de coração, é a mais nova integrante da lista de peixes brasileiros. Ela foi coletada entre os estados do Rio de Janeiro e do Espírito Santo, a cerca de 900 metros de profundidade. Como muitas espécies marinhas recém-identificadas, esta também é uma habitante das trevas.

O mar oferece outros tipos de riqueza. Estudos feitos no exterior revelaram numerosas substâncias extraídas de animais marinhos e com aplicação comercial. Há substâncias de poderosa ação antiviral e até mesmo anticancerígena. Há também uma esponja cuja estrutura inspirou fibras óticas que transmitem informação com mais eficiência. Outros compostos recém-descobertos de bactérias são transformados em cremes protetores contra raios ultravioletas. Vermes que devoram ossos de baleias produzem um composto com ação detergente. Já o coral-bambu é visto como um substituto potencial para próteses ósseas.

(Adaptado de Ana Lucia Azevedo. Revista O Globo. 19 de março de 2006, p.18-21)

A substituição do segmento grifado pelo pronome correspondente está feita de modo INCORRETO em:

a) parecem guardar as respostas = parecem guardá-las.

b) que ocupa a maior parte da superfície da Terra = que a ocupa.

c) oferece outros tipos de riqueza = oferece-os.

d) revelaram numerosas substâncias = revelaram-nas.

e) produzem um composto = produzem-lhe.

Resolução

Alternativa E. O complemento do verbo “produzir” não tem preposição. Portanto, o pronome que substitui o complemento é “produzem-no”.

Questão 2 - (FCC)

Ensino que ensine

Jogar com as ambiguidades, cultivar o improviso, juntar o que se pretende irreconciliável e dividir o que se supõe unitário, usar falta de método como método, tratar enigmas como soluções e o inesperado como caminho são traços da cultura do povo brasileiro. Estratégias de sobrevivência? Por que não também manancial de grandes feitos, tanto na prática como no pensamento? A orientação de nosso ensino costuma ser o oposto dessa fecundidade indisciplinada: dogmas confundidos com ideias, informações sobrepostas a capacitações, insistência em métodos "corretos" e em respostas "certas", ditadura da falta de imaginação. Nega-se voz aos talentos, difusos e frustrados, da nação. Essa contradição nunca foi tema do nosso debate nacional.

Entre nós, educação é assunto para economistas e engenheiros, não para educadores, como se o alvo fosse construir escolas, não construir pessoas. Preconizo revolução na orientação do ensino brasileiro. Nada tem a ver com falta de rigor ou com modismo pedagógico. E exige professorado formado, equipado e remunerado para cumprir essa tarefa libertadora.

Em matemática, por exemplo, em vez de enfoque nas soluções únicas, atenção para as formulações alternativas, as soluções múltiplas ou inexistentes e a descoberta de problemas, tão importante quanto o encontro de soluções. Em leitura e escrita, análise de textos com a preocupação de aprofundar, não de suprimir possibilidades de interpretação; defesa, crítica e revisão de ideias; obrigação de escrever todos os dias, formulando e reformulando sem fim. Em ciência, o despertar para a dialética entre explicações e experimentos e para os mistérios da relação entre os nexos de causa e efeito e sua representação matemática. Em história, e em todas as disciplinas, as transformações analisadas de pontos de vista contrastantes.

Isso é educação. O resto é perda de tempo. (...) Quem lutará para que a educação no Brasil se eduque?

(Roberto Mangabeira Unger, Folha de S. Paulo, 09/01/2007)

Nosso sistema de ensino tem falhas estruturais; para revolucionar nosso sistema de ensino, seria preciso despir nosso sistema de ensino dos dogmas que norteiam nosso sistema de ensino.

Evitam-se as viciosas repetições do trecho acima substituindo-se os segmentos sublinhados, respectivamente, por

a) revolucioná-lo - despi-lo - o norteiam

b) o revolucionar - despi-lo - lhe norteiam

c) revolucionar-lhe - despir-lhe - o norteiam

d) revolucioná-lo - despir-lhe - norteiam-no

e) o revolucionar - despir-lhe - o norteiam

Resolução

Alternativa A. Todos os pronomes oblíquos substituem complementos sem preposição, por isso seriam “o”. Os verbos no infinitivo (“revolucionar” e “despir”) fazem com que o pronome seja colocado após o verbo e, por terminarem em -r, perdem essa consoante final e fazem com que o pronome “o” passe a ser “lo”, gerando as formas “revolucioná-lo” e “despi-lo”. Em relação ao último verbo, o pronome relativo “que” atrai o pronome oblíquo “o” e, portanto, temos a forma “que o norteiam”.

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