A geração de 1945 - Um retorno à forma

Por Vânia Maria do Nascimento Duarte


Clarice Lispector e Guimarães Rosa – representantes da geração de 45


Decorrida toda uma geração que inovou o cenário artístico brasileiro com o advento do Modernismo, no qual tanto se discutiu acerca de uma literatura de cunho verdadeiramente nacionalista como forma de desapego ao estilo “importado”, materializando-se pela habilidade prosaica de Mário de Andrade com seu Macunaíma, o herói sem caráter, por Oswald de Andrade com toda sua irreverência ao propor uma arte voltada para a liberdade de expressão e por tantas outras figuras que abrilhantaram as nossas letras de forma ímpar, deparamo-nos com a chegada de uma nova linhagem.

Desta feita, podemos dizer que tal geração mostrou-se um tanto quanto condicionada à forma, e não ao conteúdo propriamente dito. Tal afirmativa contextualiza-nos àquele pressuposto teórico de que as manifestações literárias que perfizeram todos os estilos de época tenderam, mutuamente, a se completar ou a se repudiar, todas sob uma dinâmica bastante complexa. Ao retratarmos acerca do retorno à forma, constatamos que esta característica foi antes de tudo uma forma de se completar, tendo como referência moldes anteriormente proferidos por outras estéticas passadistas. É o que nos revela um representante da era em questão, representado por João Cabral de Melo Neto – “o poeta- engenheiro”.

Certamente iremos nos familiarizar com toda essa leva de escritores que representaram a chamada geração de 45, compartilhando de sua trajetória artística e, sobretudo, adentrando seus pressupostos ideológicos e demais características a que lhes são peculiares. Entretanto, não deixaremos o contexto histórico-social vigorado pela época vigente em segundo plano. Apoiados neste intento discorreremos a respeito de alguns fatos que demarcaram tais tempos.

O mundo vivia o período pós-guerra, iniciando-se assim a tão conhecida Guerra Fria, representada por duas grandes potências – Estados Unidos e União Soviética. Esta apoiada em um sistema socialista, e aquela, no capitalismo. Surgiram, pois, dois blocos militares cujo objetivo era apoiá-las – do lado capitalista estava a OTAN, e do outro, o Pacto de Varsóvia. No Brasil, Getúlio Vargas era então destituído do poder por militares que o colocaram neste, embora pouco depois retornara ao comando por meio do voto direto.

Findo seu governo, iniciara uma política desenvolvimentista, desta vez por Juscelino Kubitscheck, pautado pelo lema “cinquenta anos em cinco”. Diante do propósito de desenvolvimento industrial, paralelamente, crescia também as desigualdades sociais e dívidas do país com o exterior. Foi quando Jânio Quadros se elegeu então presidente do Brasil. Como se vê, o período compreendido entre 1945 e 1960 foi marcado por grandes transformações de cunho político. Não diferente ocorreu com a vida cultural, haja vista o surgimento do Teatro Brasileiro de Comédia, revelando grandes talentos, o desenvolvimento da arte cinematográfica, representado por Dercy Gonçalves, Grande Otelo e demais representantes. O rádio apresentava importantes figuras, como, por exemplo, Emilinha Borba, Cauby Peixoto, Ângela Maria e o inesquecível Elvis Presley. Não deixando de mencionar a Bossa Nova, concebida como instrumento de exportação, na figura de Tom Jobim e Vinícius de Moraes.

Arraigados neste conjunto de informações, voltemos agora a enfatizar sobre as características que perfizeram a presente geração. Ressaltamos o fato de que tal período foi caracterizado por um forte ciclo de renovação, tanto na prosa quanto na poesia, extremamente marcadas pelas pesquisas formais e personalizadas por seus autores, cada um deles com características próprias.

Na prosa, na qual Guimarães Rosa foi mestre, percebemos que o elemento norteador foi o regionalismo, no entanto, diferentemente do regionalismo cultuado pela geração de 30, conferido por uma visão crítica. Este, por sua vez, foi representado por acentuadas inovações temáticas e linguísticas. Ressalta-se também a poesia intimista que, agora se mostra mais adensada, voltando-se para uma intensa investigação psicológica, muito bem representada por Clarice Lispector. Quanto à pintura e escultura, estas se caracterizaram pela representação realista das figuras, acentuada pelo hiper-realismo, em detrimento das abstrações figuradas pela arte moderna.

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