Luis Fernando Verissimo

Por Luciana Kuchenbecker Araújo

 Luis Fernando Verissimo nasceu no dia 26 de setembro de 1936, em Porto Alegre. É filho do escritor Erico Lopes Verissimo e Mafalda Verissimo. Passou boa parte da infância e da adolescência nos Estados Unidos acompanhando o pai, que lecionava literatura em uma universidade da Califórnia.

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Atuação profissional de Luis Fernando Verissimo

De volta ao Brasil, aos vinte anos, iniciou sua carreira profissional no departamento de arte da Editora Globo. Apaixonado pelo jazz, em 1960, ingressou em um grupo musical chamado Renato e seu Sexteto, como saxofonista, e passou a tocar em alguns bailes de Porto Alegre. Dois anos mais tarde, mudou-se para a capital do Rio de Janeiro para trabalhar como tradutor e redator publicitário.

Em 1963, casou-se com Lúcia Helena Massa, com quem teve três filhos: Fernanda, Mariana e Pedro. No final da década de 1960, atuou profissionalmente como redator publicitário na agência MPM Propaganda e no jornal Folha da Manhã, onde publicou alguns contos e crônicas e também manteve uma coluna diária até 1975, escrevendo a respeito de literatura, cinema, política, esporte, música e gastronomia.

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Em 1967, Luis Fernando Verissimo voltou a viver em Porto Alegre para trabalhar como revisor de textos no jornal Zero Hora. Em 1969, passou a escrever uma coluna diária no mesmo jornal sobre assuntos relacionados, principalmente, com o futebol.

Sua primeira coletânea de textos, intitulada O Popular: crônicas ou coisa parecida, foi publicada em 1973 pela editora José Olympio. Dois anos mais tarde, ingressou no Jornal do Brasil e publicou uma coletânea de crônicas, A grande mulher nua, e uma coletânea de cartuns, intitulada As Cobras.

O quinto livro de crônicas, Ed Mort e outras histórias, foi publicado em 1979 pela editora L&PM, pela qual publicou outras obras durante um período de vinte anos.

Ed Mort, a Velhinha de Taubaté, o Analista de Bagé, Dora Avante e as Cobras são algumas das muitas personagens criadas pelo autor que ficaram bastante conhecidas pelos leitores em razão do perfil caricatural e cômico atribuído a elas.

Luis Fernando Verissimo recebeu alguns prêmios como reconhecimento de sua vasta produção literária, como o prêmio Isenção Jornalística e o prêmio Troféu Juca Pato (intelectual do ano). Luis Fernando Verissimo e Erico Verissimo foram homenageados, em 1999, como enredo da escola de samba Unidos de Vila Isabel.

Luis Fernando Verissimo é conhecido principalmente por seus textos humorísticos.[1]
Luis Fernando Verissimo é conhecido principalmente por seus textos humorísticos.[1]

Crônica de Luis Fernando Verissimo

O homem trocado

O homem acorda da anestesia e olha em volta. Ainda está na sala de recuperação. Há uma enfermeira do seu lado. Ele pergunta se foi tudo bem.

- Tudo perfeito - diz a enfermeira, sorrindo.

- Eu estava com medo desta operação...

- Por quê? Não havia risco nenhum.

- Comigo, sempre há risco. Minha vida tem sido uma série de enganos...

E conta que os enganos começaram com seu nascimento. Houve uma troca de bebês no berçário e ele foi criado até os dez anos por um casal de orientais, que nunca entenderam o fato de terem um filho claro com olhos redondos. Descoberto o erro, ele fora viver com seus verdadeiros pais. Ou com sua verdadeira mãe, pois o pai abandonara a mulher depois que esta não soubera explicar o nascimento de um bebê chinês.

- E o meu nome? Outro engano.

- Seu nome não é Lírio?

- Era para ser Lauro. Se enganaram no cartório e...

Os enganos se sucediam. Na escola, vivia recebendo castigo pelo que não fazia. Fizera o vestibular com sucesso, mas não conseguira entrar na universidade. O computador se enganara, seu nome não apareceu na lista.

- Há anos que a minha conta do telefone vem com cifras incríveis. No mês passado tive que pagar mais de R$ 3 mil.

- O senhor não faz chamadas interurbanas?

- Eu não tenho telefone!

Conhecera sua mulher por engano. Ela o confundira com outro. Não foram felizes.

- Por quê?

- Ela me enganava.

Fora preso por engano. Várias vezes. Recebia intimações para pagar dívidas que não fazia. Até tivera uma breve, louca alegria, quando ouvira o médico dizer:

- O senhor está desenganado.

Mas também fora um engano do médico. Não era tão grave assim. Uma simples apendicite.

- Se você diz que a operação foi bem...

A enfermeira parou de sorrir.

- Apendicite? - perguntou, hesitante.

- É. A operação era para tirar o apêndice.

- Não era para trocar de sexo?

(VERÍSSIMO, Luís Fernando. Comédias para se ler na escola. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.)

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Principais obras e antologias de Luis Fernando Verissimo

  • Ed Mort e outras histórias (1979)

  • O Analista de Bagé (1981)

  • Outras do Analista de Bagé (1982)

  • O Gigolô das Palavras (1982)

  • A Velhinha de Taubaté (1983)

  • A Mãe de Freud (1985)

  • O Marido do Doutor Pompeu (1987)

  • Comédias da Vida Privada (1994)

  • Comédias da Vida Pública (1995)

  • Novas Comédias da Vida Privada (1996)

  • A Versão dos Afogados - Novas Comédias da Vida Pública (1997)

  • Ed Mort, Todas as Histórias (1997)

  • As Noivas do Grajaú (1999)

  • Comédias para se Ler na Escola (2000)

  • As Mentiras que os Homens Contam (2000)

  • Todas as Histórias do Analista de Bagé (2002)

  • O Melhor das Comédias da Vida Privada (2004)

  • Mais comédias para ler na escola (2008)

  • As Cobras - Antologia Definitiva (2010)

  • As Mentiras que as Mulheres Contam (2015)

Cartuns e quadrinhos de Luis Fernando Verissimo

  • As Cobras (1975)

  • As Cobras e Outros Bichos (1977)

  • As Cobras do Verissimo (1978)

  • O Analista de Bagé em Quadrinhos (1983)

Crédito da imagem

[1] Marcello Casal Jr./Abr / Commons 

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