Lima Barreto

Por Warley Souza

Lima Barreto é um famoso escritor brasileiro. Suas obras possuem caráter pré-modernista e a mais conhecida delas é o romance Triste fim de Policarpo Quaresma.

Busto em homenagem ao escritor Lima Barreto.
O escritor Lima Barreto denunciou o preconceito racial em algumas de suas obras.[1]

Lima Barreto é um escritor brasileiro. Ele nasceu na cidade do Rio de Janeiro, no dia 13 de maio de 1881. Mais tarde, estudou engenharia, escreveu para alguns periódicos e trabalhou como funcionário público. Por ser negro, sofreu discriminação em sua época, mas hoje é considerado um dos grandes autores brasileiros.

O romancista, que faleceu em 1º de novembro de 1922, no Rio de Janeiro, faz parte do Pré-modernismo. Suas obras trazem uma visão realista e crítica da sociedade brasileira de início do século XX. Algumas delas denunciam a discriminação racial. Sua obra mais conhecida é o livro Triste fim de Policarpo Quaresma.

Leia também: Franklin Távora — escritor cearense cujas obras trazem temas como a violência e o preconceito social

Resumo sobre Lima Barreto

  • O escritor brasileiro Lima Barreto nasceu em 1881 e faleceu em 1922.

  • Ele estudou engenharia, além de atuar como jornalista e funcionário público.

  • Suas obras estão inseridas no período literário conhecido como Pré-modernismo.

  • Suas narrativas apresentam realismo social e denunciam o preconceito racial.

  • O livro mais famoso do autor é o romance Triste fim de Policarpo Quaresma.

Videoaula sobre Lima Barreto

Biografia de Lima Barreto

Lima Barreto (Afonso Henriques de Lima Barreto) nasceu em 13 de maio de 1881, na cidade do Rio de Janeiro. Seu pai era filho de uma ex-escrava com um português branco. E trabalhava como tipógrafo. Já a mãe do autor também era filha de uma ex-escrava e trabalhava como professora.

Ao nascer, Lima Barreto teve como padrinho o rico senador Afonso Celso de Assis Figueiredo (1836-1912), de quem o autor herdou o nome de batismo. E, em 1887, ficou órfão de mãe. Nessa época, ingressou em uma escola pública e, em seguida, estudou no Liceu Popular de Niterói.

O pai, por questões políticas, foi demitido, em 1889, da Imprensa Nacional. Então, passou a trabalhar como escriturário em um hospício na Ilha do Governador. Era ali que o escritor visitava o pai nos fins de semana, já que estudava em regime de internato. Assim, em 1895, Lima Barreto passou a estudar no Ginásio Nacional.

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Dois anos depois, ingressou na Escola Politécnica, onde estudava engenharia. Nessa fase, morou em uma pensão no Rio de Janeiro. E precisou suportar o preconceito racial que sofria diariamente na instituição em que estudava. Em 1902, começou a escrever para o jornal A Lanterna e acabou desistindo da faculdade.

Pesaram na decisão a perseguição que sofria na Escola Politécnica e, principalmente, o fato de que o pai acabou sendo internado por apresentar doença mental. Desse modo, buscou um emprego para pagar as dívidas do pai e alimentar os irmãos. E, assim, se tornou funcionário público, trabalhando na Secretaria da Guerra como escriturário.

Nessa época, em 1903, os problemas de sua vida levaram o romancista a buscar o álcool. Apesar disso, escrevia para jornais cariocas. E, em 1905, passou a trabalhar como jornalista para o Correio da Manhã. Também se tornou membro do Partido Operário Independente. E, dois anos depois, criou a revista Floreal.

No ano de 1909, publicou seu primeiro livro Recordações do escrivão Isaías Caminha. Contudo, em 1914, ficou internado, durante dois meses, no Hospital Nacional dos Alienados, em função de seu alcoolismo. Dois anos depois, apresentou mais problemas de saúde, pois estava profundamente anêmico.

Já em 1918, foi aposentado por invalidez pela Secretaria de Guerra, por sofrer de epilepsia tóxica. Sua segunda internação no Hospital Nacional dos Alienados ocorreu no final de 1919 e durou até fevereiro de 1920. O romancista faleceu em 1º de novembro de 1922, no Rio de Janeiro, após um ataque cardíaco.

Características literárias de Lima Barreto

As narrativas pré-modernistas de Lima Barreto apresentam críticas à realidade social brasileira do início do século XX. São realistas e, portanto, não possuem qualquer idealização. A temática do nacionalismo é tratada de forma crítica e irônica. Os personagens do autor são, principalmente, indivíduos do subúrbio do Rio de Janeiro.

Desse modo, o narrador dá visibilidade à vida na periferia da então capital do Brasil. Valoriza seus aspectos culturais e a linguagem oral, além de mostrar os problemas enfrentados pelos moradores desse espaço urbano. Por fim, explicita o preconceito racial de um país em que era recente a abolição da escravatura.

Veja também: Características do movimento modernista no Brasil

Lima Barreto e o Pré-modernismo

O Pré-modernismo é um período literário que engloba obras publicadas entre 1902 e 1922. É um período de transição entre o Simbolismo e o Modernismo. Desse modo, elementos de estéticas passadas, como o Parnasianismo, o Naturalismo, o Realismo e o Simbolismo, podem ser identificados nos livros da época.

Assim, as obras de Lima Barreto trazem de fato um olhar realista sobre a realidade brasileira. No entanto, não utilizam elementos da estética naturalista, como, por exemplo, o determinismo. Afinal, a visão determinista corroborava a ideia de inferioridade racial. E Lima Barreto, que era um homem negro, denunciava e combatia o racismo.

Obras de Lima Barreto

Romances de Lima Barreto

  • Recordações do escrivão Isaías Caminha (1909)

  • As aventuras do Dr. Bogoloff (1912)

  • Triste fim de Policarpo Quaresma (1915)

  • Numa e a ninfa (1915)

  • Vida e morte de M. J. Gonzaga de Sá (1919)

  • Clara dos Anjos (1948)

Contos e crônicas de Lima Barreto

  • Histórias e sonhos (1920)

  • Os bruzundangas (1922)

  • Bagatelas (1923)

  • Feiras e mafuás (1953)

  • Marginália (1953)

  • Vida urbana (1956)

Memórias de Lima Barreto

  • Diário íntimo (1953)

  • Diário do hospício (1956)

  • O cemitério dos vivos (1956)

Triste fim de Policarpo Quaresma, de Lima Barreto

Capa do livro Triste fim de Policarpo Quaresma, de Lima Barreto.
Capa do livro Triste fim de Policarpo Quaresma, de Lima Barreto, publicado pela editora Principis.[2]

Major Quaresma é um patriota. Idealiza o Brasil e almeja o crescimento da nação. Valoriza também a cultura de nosso país. Busca, assim, nos costumes nativos, a identidade brasileira. Em função disso, estuda o tupi-guarani e até defende que essa seja a língua oficial do Brasil. Por isso, é ridicularizado.

Na esperança de colocar em prática as suas ideias sobre agricultura, compra o sítio Sossego e vai morar ali. Ironicamente, não tem nenhum descanso nesse lugar, pois só encontra problemas. As saúvas prejudicam a produção, enquanto Policarpo Quaresma sofre perseguição política de uma liderança local.

Ao relatar esses fatos, de forma irônica e bem-humorada, o narrador nos mostra a realidade que Quaresma demora a aceitar. Afinal, não há investimento no crescimento da nação, mas apenas interesses pessoais, principalmente daqueles envolvidos com a política local e nacional.

Em apoio ao presidente Floriano Peixoto (1839-1895), o protagonista decide lutar contra outros brasileiros, os quais fazem oposição ao ditador. É a Revolta da Armada. Mas, durante esse conflito armado, Policarpo encara a realidade brasileira ao perceber as injustiças do autoritário Floriano Peixoto.

Por fim, a última ironia desse romance repleto de ironias é o fato de Policarpo Quaresma ser condenado à morte, no final da obra. Afinal, ao questionar os desmandos do presidente, Policarpo, o maior nacionalista brasileiro, é acusado de traição. A morte é precedida pela tristeza causada pelo fim de todas as ilusões.

Frases de Lima Barreto

Vamos ler, a seguir, algumas frases de Lima Barreto, extraídas de seu livro Diário do hospício:

  • “A Literatura ou me mata ou me dá o que eu peço dela.”

  • “Não quero morrer, não; quero outra vida.”

  • “No fim do homem e do mundo, há o mistério e eu creio nele.”

  • “Não há espécies, não há raças de loucos; há loucos só.”

  • “Todo o problema de origem é sempre insolúvel.”

  • “Ao morrer, quero com um sol belo, de um belo dia de verão!”

Saiba mais: Realismo no Brasil — ironias, críticas sociopolíticas e objetividade das obras desse período

Curiosidades sobre Lima Barreto

  • Lima Barreto, um homem negro, nasceu livre em 13 de maio de 1881. Nesse mesmo dia, em 1888, ocorreu a abolição da escravatura.

  • O autor escreveu o Manifesto maximalista, em 1918, inspirado pela Revolução Russa, ocorrida no ano anterior.

  • Na década de 1920, Lima Barreto se candidatou duas vezes para uma vaga na Academia Brasileira de Letras e foi rejeitado.

  • Em 2023, a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) concedeu o título de doutor honoris causa ao escritor.

Créditos da imagem

[1]Ezarate / Wikimedia Commons

[2] Editora Principi (reprodução)

Fontes

ABAURRE, Maria Luiza M.; PONTARA, Marcela. Literatura: tempos, leitores e leituras. 3. ed. São Paulo: Moderna, 2015.

CBJE. Afonso Henriques de Lima Barreto. Disponível em: http://www.camarabrasileira.com.br/nossopatrono.html.

LITERAFRO. Lima Barreto: dados biográficos. Disponível em: http://www.letras.ufmg.br/literafro/autores/450-lima-barreto.

MARTHA, Alice Áurea Penteado. Lima Barreto e a crítica (1900 a 1922): a conspiração de silêncio. Acta Scientiarum, v. 22, n. 1, p. 59-68, 2000.

MARTINS, Eliete Marim. Diário íntimo — documento da memória, criação estética — uma dupla leitura. 2008. Dissertação (Mestrado em Literatura) – Instituto de Letras, Universidade de Brasília, Brasília, 2008.

MESSINA, Julia. Nas entrelinhas: o Rio de Janeiro do século XX segundo os diários de Lima Barreto. 2013. Dissertação (Mestrado em Ciências Sociais) – Departamento de Ciências Sociais, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2013.

MUSEUAFROBRASIL. Lima Barreto. Disponível em: http://www.museuafrobrasil.org.br/pesquisa/história-e-memória/historia-e-memoria/2014/07/17/lima-barreto.

PIMENTA, Shyrley. Psicanálise e literatura: o corpo humilhado em Lima Barreto. 2007. Dissertação (Mestrado em Psicologia Aplicada) – Instituto de Psicologia, Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, 2007. 

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